'Teia de aranha': o emaranhado de túneis do Hamas que põe Israel no escuro

Em guerra com Israel desde o dia 7 de outubro, o grupo extremista Hamas possui uma das maiores redes de túneis do mundo. Especialistas apontam que esse extenso e secreto complexo subterrâneo é um dos grandes desafios que as forças terrestres israelenses podem encontrar na Faixa de Gaza —e para o qual não existe uma solução perfeita.

De acordo com o jornal norte-americano The New York Times, John W. Spencer, que estuda guerra urbana no Instituto de Guerra Moderna da Academia Militar dos EUA, descreve a luta de Israel com o Hamas nesse contexto como algo parecido como "lutar debaixo do mar".

Ao podcast Modern Warfare Project, o especialista disse ainda que nada já usado na superfície funcionaria nos túneis. "Você precisa ter equipamentos especializados para respirar, ver, navegar, comunicar e implantar meios letais, especialmente atirar", afirmou.

500 km de extensão e reféns

Até 500 km de extensão e 70 metros de profundidade. Estima-se que a rede de cerca de 1.300 túneis tenha uma extensão total de cerca de 500 quilômetros, e que alguns cheguem a 70 metros de profundidade. Informes sugerem que a maioria dos túneis tem apenas dois metros de altura e dois metros de largura.

"Teias de aranha". Uma mulher israelense de 85 anos, que foi mantida refém pelo Hamas por 17 dias após os ataques de 7 de outubro em Israel, descreveu os túneis como um "emaranhado de teias de aranha". Segundo o jornal Folha de S. Paulo, ela contou ter sido conduzida pelos túneis e até chegar a um grande salão com outros reféns.

Líderes, armas e outros equipamentos. Nos túneis também supostamente existem esconderijos de armas, alimentos, água, geradores, combustível e outros equipamentos. Os investigadores que estudaram os túneis acreditam que os líderes do Hamas provavelmente também estão nestas passagens subterrâneas.

Uso para contrabando de mercadorias. Inicialmente, os túneis desta área eram usados para contrabandear mercadorias entre Gaza e o Egito e, mais tarde, entre Gaza e Israel. Com o tempo, devido ao aumento da vigilância aérea israelense em Gaza, com drones e outros equipamentos eletrônicos de espionagem, o Hamas começou a investir mão de obra e dinheiro na expansão da rede de túneis.

Israel descobriu extensão da rede em 2014. Mas foi só em uma operação militar em Gaza, em 2014, que o Exército israelense descobriu a verdadeira extensão dos túneis do Hamas. Depois disso, o governo israelense começou a desenvolver uma barreira ao longo da fronteira de Gaza que penetra no subsolo, para impedir o acesso por túneis ao lado israelense.

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Não é fácil localizar os túneis, que podem estar sob edifícios de todos os tipos. Ainda assim, existem diversas maneiras de fazer isso, como o uso de radar e outras técnicas de detecção que medem padrões térmicos, magnéticos e acústicos. Na maioria das vezes, no entanto, as passagens subterrâneas tendem a ser encontradas pelo trabalho de detetives humanos, como relatou o think tank Rand num relatório de investigação sobre o tema de 2017. Isto é, por soldados em patrulha, ou quando, por exemplo, o sinal telefônico de um agente do Hamas rastreado desaparece subitamente ao entrar num local subterrâneo.

Combate subterrâneo

As ações de Israel para destruir túneis. No passado, gás lacrimogêneo ou agentes químicos eram usados para "limpar" túneis, conforme explica o livro Underground Warfare, de uma das maiores especialistas mundiais nesta área, Daphné Richemond-Barak. Também é possível bombardear túneis e Israel tem bombas "destruidoras de bunkers", capazes de penetrar profundamente no subsolo.

Chances limitadas de sucesso

Área densamente povoada. Com apenas cerca de 40 quilômetros de comprimento por entre 6 e 14 quilômetros de largura, e com uma população de 2,2 milhões de pessoas bloqueadas por Israel desde 2007, a Faixa de Gaza é uma das áreas mais densamente povoadas do mundo. Portanto, mesmo que os militares israelenses soubessem onde estão os túneis, a situação no terreno tornaria esse tipo de bombardeamento extremamente difícil, se não impossível.

Além disso, não é fácil lutar nos túneis. O subsolo é mais escuro e muito mais frio, sons, como tiros, são amplificados, e o uso de armas também levanta poeira. Além disso, os túneis podem facilmente se tornar armadilhas explosivas. Na verdade, no passado, os soldados israelenses não eram autorizados a entrar nos túneis até receberem cobertura de equipes especializadas.

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Ambiente urbano. Richemond-Barak manifesta preocupação e afirma que o exército de Israel poderia derrubar, inundar ou destruir os túneis e selá-los, mas isso seria muito difícil, especialmente quando se está sob fogo em um ambiente urbano, e poderia levar meses. "Israel precisaria empreender uma operação aérea e terrestre prolongada e extensa para degradar esta infraestrutura subterrânea", escreveu em outubro em artigo para o jornal britânico Financial Times.

Mesmo em um tal cenário, que teria um custo humano impensável, é improvável que toda a rede de túneis de Gaza seja destruída.
Daphné Richemond-Barak, especialista em guerra subterrânea

*Com Deutsche Welle

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